
Dominar a língua portuguesa vai além de conhecer regras gramaticais e estruturas formais. Um dos aspectos que mais enriquecem a comunicação, tanto na linguagem oral quanto na escrita, são as expressões idiomáticas. Elas carregam significados que não podem ser deduzidos apenas a partir do sentido literal das palavras que as compõem.
No contexto dos concursos públicos, o uso apropriado dessas expressões pode contribuir para um texto mais natural, fluente e expressivo, desde que haja o devido cuidado quanto à adequação linguística.
Neste artigo, vamos explorar o papel das expressões idiomáticas na comunicação, seus principais exemplos, como utilizá-las com propriedade e os cuidados ao empregá-las em situações formais, como os concursos públicos.
A importância das expressões idiomáticas na comunicação
As expressões idiomáticas são conjuntos de palavras que, juntas, adquirem um significado específico, muitas vezes distante do literal. Seu uso é um dos traços mais marcantes da vivacidade e da riqueza de uma língua. Elas refletem aspectos culturais, históricos e sociais de uma comunidade linguística, funcionando como ferramentas que tornam a linguagem mais envolvente e expressiva.
No dia a dia, essas expressões facilitam a comunicação, criam laços entre falantes de uma mesma região e tornam o discurso mais espontâneo. No entanto, seu valor vai além da oralidade. Quando bem utilizadas em textos escritos, podem contribuir para a construção de um estilo autoral, ampliando os recursos de expressão disponíveis.
Exemplos comuns no português
A língua portuguesa é particularmente rica em expressões idiomáticas, muitas delas usadas com tanta frequência que passam despercebidas. Veja alguns exemplos:
● “Chutar o balde”: agir sem pensar nas consequências ou desistir de algo.
● “Fazer vista grossa”: fingir que não viu, ignorar algo propositalmente.
● “Colocar a mão no fogo”: confiar plenamente em alguém.
● “Pisar na bola”: cometer um erro ou falhar em alguma responsabilidade.
● “Estar com a faca e o queijo na mão”: ter todas as condições favoráveis para agir.
Essas expressões são compreendidas de maneira automática pelos falantes nativos, o que facilita a comunicação. Porém, sua compreensão pode não ser imediata para estrangeiros ou para leitores não familiarizados com o contexto cultural em que são usadas.
Como usar de forma correta
Apesar de parecerem naturais, as expressões idiomáticas devem ser usadas com critério. É necessário conhecer bem o seu significado, a situação comunicativa e o efeito que se pretende causar. O uso inadequado pode comprometer a clareza do texto ou transmitir uma mensagem diferente da desejada.
Para empregá-las corretamente, é importante:
- Compreender o sentido figurado da expressão antes de usá-la.
- Observar o registro linguístico do contexto em que se está escrevendo.
- Evitar exageros, pois o uso excessivo de expressões idiomáticas pode deixar o texto artificial ou cansativo.
- Adaptar-se ao público-alvo. O leitor precisa reconhecer e compreender a expressão para que a comunicação seja eficaz.
Em provas discursivas e redações, principalmente nas de concursos públicos, o equilíbrio é fundamental. Usar uma ou outra expressão idiomática, de forma pontual e bem encaixada, pode enriquecer o texto. Porém, exagerar ou inserir expressões fora de contexto pode causar prejuízos à avaliação.
Expressões idiomáticas na redação de concursos
A redação em concursos públicos, em geral, exige clareza, coesão, coerência e domínio da norma-padrão. Em algumas bancas, como a Cespe (atual Cebraspe) e a FCC, há uma valorização de textos bem estruturados e objetivos, com vocabulário adequado ao tema proposto e ao nível de formalidade exigido.
Nesse cenário, expressões idiomáticas podem ser bem-vindas, desde que utilizadas com sobriedade e propósito. Uma expressão bem escolhida pode tornar o texto mais leve e mostrar domínio de repertório linguístico. Por exemplo, ao abordar um tema sobre desigualdade social, dizer que “muitos cidadãos vivem à margem da sociedade” transmite mais impacto do que simplesmente afirmar que “muitos são excluídos”.
Entretanto, é preciso lembrar que o uso de linguagem excessivamente coloquial pode ser penalizado. Expressões como “chutar o balde”, “ficar de mãos abanando” ou “dar com os burros n’água” devem ser evitadas quando o texto exige impessoalidade ou linguagem técnica.
O impacto do uso de expressões idiomáticas na clareza e no estilo
Quando bem aplicadas, as expressões idiomáticas enriquecem o estilo textual, demonstram conhecimento da língua e permitem variações de vocabulário, um ponto frequentemente valorizado nas correções de redações. Além disso, elas podem ajudar na construção de imagens mentais mais fortes e transmitir emoções com mais eficácia.
Por outro lado, há riscos: expressões mal compreendidas, usadas fora de contexto ou sem sentido claro podem prejudicar a clareza da mensagem. Um dos princípios fundamentais da boa redação é a capacidade de se comunicar com precisão. Se a expressão idiomática não contribuir diretamente para isso, talvez seja melhor optar por uma construção mais direta.
Outro ponto relevante é a variação regional das expressões idiomáticas. Uma mesma ideia pode ser expressa de maneiras diferentes dependendo da região do país. Enquanto em algumas regiões diz-se “encher linguiça” para indicar que alguém está enrolando ou prolongando um texto sem necessidade, em outras, a expressão pode ser desconhecida ou ter conotação diferente.
Essa diversidade é uma das riquezas do português brasileiro, mas, em textos avaliativos de concursos, é importante priorizar expressões de uso mais generalizado ou neutro. Isso evita interpretações ambíguas e garante maior compreensão por parte do avaliador, independentemente de sua origem regional.

Cuidados ao usar expressões idiomáticas em contextos formais
Em contextos formais, como a produção de pareceres, relatórios técnicos ou redações de concursos, a principal recomendação é usar expressões idiomáticas com parcimônia. A linguagem formal exige precisão, clareza e impessoalidade. Logo, expressões demasiadamente populares ou informais devem ser evitadas.
Outro cuidado importante diz respeito à coesão e coerência do texto. A introdução de uma expressão idiomática precisa estar em harmonia com o restante do parágrafo, tanto em termos de tom quanto de conteúdo. Usar uma expressão apenas para “enfeitar” o texto pode soar forçado e comprometer a naturalidade do discurso.
Em provas de redação, a melhor estratégia é priorizar a clareza e a correção. Se a expressão idiomática escolhida contribuir efetivamente para a argumentação, agregando valor sem comprometer a formalidade, ela pode (e deve) ser utilizada. Caso contrário, é preferível substituí-la por uma formulação mais direta.
As expressões idiomáticas são uma parte fascinante e poderosa da língua portuguesa. Elas refletem a cultura, a história e a criatividade dos falantes, e podem enriquecer sobremaneira a comunicação. No entanto, seu uso exige domínio linguístico e sensibilidade para identificar os contextos em que são apropriadas.
Em redações de concursos públicos, a clareza, a objetividade e o respeito à norma-padrão são exigências centrais. Por isso, é fundamental que o candidato saiba equilibrar estilo e formalidade. Expressões idiomáticas bem selecionadas podem demonstrar repertório e sensibilidade linguística, contribuindo positivamente para a avaliação. Por outro lado, o uso inadequado pode comprometer a compreensão e afetar a nota final.
Portanto, o segredo está na moderação e no conhecimento. Dominar o significado, saber o momento certo de utilizar e respeitar o grau de formalidade da proposta textual são atitudes que fazem toda a diferença. Afinal, mais do que enfeitar o texto, a função da linguagem é comunicar com precisão e eficiência.