
Entre os inúmeros temas que geram insegurança em quem estuda para concursos, a crase está certamente no topo da lista. Muitos candidatos consideram o uso do acento grave (`) indicativo de crase um verdadeiro inimigo gramatical: difícil de entender, fácil de errar e recorrente nas provas. Mas será que a crase é mesmo esse bicho-papão? Ou será que, com o conhecimento certo, ela pode se tornar uma aliada poderosa na sua caminhada rumo à aprovação?
Neste artigo, vamos desfazer os mitos e esclarecer, de forma objetiva e prática, o que você realmente precisa saber sobre a crase para garantir bons resultados em qualquer concurso. Ao final da leitura, você verá que dominar esse tema é possível e muito mais simples do que parece.
O que é a crase e por que ela causa dúvidas?
Crase é a fusão de duas vogais idênticas, neste caso, da preposição “a” com o artigo definido feminino “a” (ou “as”, no plural). O resultado dessa fusão é marcado pelo uso do acento grave (“à” ou “às”). Esse acento não altera a pronúncia da palavra, mas sua função é indicar que duas palavras se uniram fonética e gramaticalmente.
O principal motivo da confusão é justamente essa união entre elementos diferentes: ela exige que o candidato reconheça a presença da preposição regida por uma palavra anterior e o artigo definido que acompanha a palavra seguinte. Em outras palavras, é necessário analisar o contexto, o que envolve conhecimento de vocabulário, de regência verbal e nominal e de classes gramaticais.
Ou seja, não se trata apenas de ‘decorar’ regras, mas de compreender o funcionamento da língua. E é isso que, muitas vezes, assusta o concurseiro. Mas com uma base sólida e treino direcionado, essa insegurança pode ser superada.

Regras básicas para o uso da crase
Para saber se ocorre crase nos casos de contração, faça duas perguntas simples:
- A palavra anterior exige preposição “a”?
- A palavra seguinte aceita ou exige o artigo definido feminino “a” (ou “as”)?
Se as duas respostas forem “sim”, ocorrerá crase, que será indicada pelo emprego do acento grave. Caso contrário, não. A seguir, organizamos as principais regras para tornar esse processo mais claro:
● Ocorre crase quando houver o encontro da preposição “a” regida por um verbo (como “ir”, “chegar”, “voltar”, “obedecer”, etc.) com o artigo definido feminino do termo seguinte, mas somente se a palavra após o verbo aceitar o determinante.
● Substantivos femininos com determinantes (artigos, pronomes demonstrativos, possessivos femininos) também contribuem para a ocorrência da crase.
● A preposição “a” pode vir de uma regência verbal ou nominal, então é preciso conhecer as exigências dos verbos e dos nomes envolvidos.
Dominar o uso da crase depende menos de ‘decorar’ regras e mais de entender a relação entre as palavras. Quando você identifica a necessidade da preposição ‘a’ e a presença do artigo feminino ‘a(s)’, a crase deixa de ser um mistério e passa a ser um fenômeno consciente. Com prática e atenção à regência, o uso correto se torna automático.
Casos obrigatórios de crase
Existem contextos em que a crase é sempre obrigatória, e esses casos são muito cobrados em concursos. Vamos a eles:
● Locuções prepositivas, conjuntivas e adverbiais femininas (aqui não há contração de preposição a + artigo a/as): quando essas locuções são formadas por palavras femininas, a crase é obrigatória. Exemplos típicos: à medida que, à tarde, à noite, à procura de, à frente de.
● Antes de nomes de cidades femininos que admitem o artigo “a”: se a cidade aceita o artigo, ocorre crase. Exemplo: “Cheguei à Bahia.” É diferente de “Cheguei a Porto Alegre”, se a cidade não admitir o artigo (o que precisa ser verificado caso a caso).
● Antes de pronomes demonstrativos iniciados por “a”, como “aquela”, “aquele”, “aquilo”. Se o termo anterior pedir preposição ‘a’, acento grave nesses demonstrativos (àquela, àquele, àquilo).
● Antes da palavra “moda” (mesmo implícita): “à moda antiga”, “roupa à francesa”. Mesmo que “moda” esteja subentendida, a crase é obrigatória.
Os casos obrigatórios de crase seguem padrões bastante estáveis e, por isso, são ótimos para memorizar e ganhar segurança.
Casos em que nunca ocorre crase
Tão importante quanto saber quando usar o acento grave indicativo de crase é identificar os contextos em que o fenômeno jamais ocorre. Eis os principais:
● Antes de palavras masculinas: o artigo “a” não se aplica. Exemplo: “Fui a pé.” (sem acento grave indicativo de crase)
● Antes de verbos: verbos não admitem artigo, portanto não há fusão. Exemplo: “Começou a estudar cedo.”
● Antes de pronomes pessoais, indefinidos, de tratamento e possessivos masculinos: como “ela”, “alguém”, “você”, “meu”. Exemplo: “Entreguei o presente a ela.”
● Antes de nomes de cidades que não aceitam o artigo definido feminino: se não houver artigo, não ocorrerá crase. Exemplo: “Voltei a Paris” (Paris é nome de lugar que não exige artigo.)
● Em expressões formadas por palavras repetidas: como “cara a cara”, “passo a passo”, “gota a gota”. Nessas construções, a repetição anula a fusão.
Reconhecer onde a crase não ocorre é tão essencial quanto dominar seus usos obrigatórios. Esses contextos seguem uma lógica simples: se não há possibilidade de artigo feminino, não há crase. Ao observar a natureza das palavras, se são masculinas, verbos, pronomes ou expressões cristalizadas, você evita erros comuns e ganha mais confiança na escrita.
Situações facultativas: quando o uso do acento grave é opcional
Existem alguns contextos em que a ocorrência da crase é permitida, mas não obrigatória. São situações de escolha estilística ou variação da norma. Veja os principais casos:
● Antes de pronomes possessivos femininos no singular: como “minha”, “tua”, “sua”. Pode ocorrer crase, dependendo do estilo ou ênfase. Exemplo: “Entreguei a tarefa à minha irmã” ou “Entreguei a tarefa a minha irmã.”
● Depois da preposição “até”: há duas possibilidades corretas: com ou sem acento grave indicativo de crase, dependendo da escolha do redator. Exemplo: “Fui até a escola” ou “Fui até à escola.”
● Antes de nomes próprios femininos que aceitam o artigo: a crase é facultativa se o uso do artigo for facultativo. Exemplo: “Entreguei o prêmio a Ana” ou “Entreguei o prêmio à Ana.”
Essas situações exigem cuidado, especialmente em provas objetivas. Quando não houver contexto claro, é preferível seguir a norma padrão e empregar o acento indicativo de crase nos casos em que ela ocorre.
Erros comuns ao usar a crase
A crase é um campo fértil para ‘pegadinhas’ em concursos, então vale ficar atento aos deslizes mais recorrentes, como:
● Colocar acento grave indicativo de crase antes de palavras masculinas;
● Deixar de usar o acento grave em locuções adverbiais femininas;
● Usar acento indicativo de crase antes de verbos;
● Erros em construções com pronomes demonstrativos;
● Insegurança em construções com nomes de cidades.
A chave para evitar esses erros está em estudar regência com atenção e treinar com questões de concursos anteriores.
Como vimos, a crase não é um monstro indomável. Ela apenas exige atenção à estrutura da frase e compreensão das relações entre os termos. Saber quando ocorre ou não a crase é uma habilidade que se constrói com prática e clareza conceitual, algo essencial para qualquer concurseiro que deseja se destacar em provas de português.
Lembre-se: errar o uso do acento grave indicativo de crase pode comprometer pontos preciosos em sua redação ou em uma questão de múltipla escolha. Por outro lado, dominá-la pode ser o diferencial que coloca você à frente da concorrência.
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